Da Mooca, Sim senhor

O Juventus na cultura da Mooca

Por: Vinicius Durand
Em 20 de Abril de 1924, era fundado no bairro da Mooca, o Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube, resultado da fusão do Extra São Paulo FC e do Cavalheiro Crespi FC, times amadores formados por operários italianos que trabalhavam na fábrica de tecido da família Crespi. No ano seguinte, o Cavalheiro Rodolfo Crespi ofertou à nova equipe um terreno na Alameda Javry (atual Rua Javari),que era utilazado por ele para debulho de algodão, a fim de desenvolver o futebol na região.

Em 1929, o Cotonificio foi campeão da da segunda divisão e logo foi convidado para disputar a primeira divisão do ano seguinte. Com o acesso, não podia-se mais utilizar o nome da empresa. Foi quando o Conde Rodolfo Crespi sugeriu para nomear o clube de Juventus, pois havia viajado para o norte da Itália e se encantou com a Juventus de Turim homenageando-a propondo inclusive também adquirir o uniforme preto e branco do clube italiano, mas foi descartado porque haviam muitos outros clubes com as mesmas cores como Corinthians, Santos e Ypiranga. Também levantou a possibilidade de manter o vermelho, preto e branco porém também foi descartada por ter outras equipes e no fim, decidiu usar grená e branco no uniforme e nas cores do time, inspirados justamente no rival da Juventus, o Torino. Então surgiu o Clube Atlético Juventus como conhecemos hoje. 

Em 14 de setembro de 1930, o clube foi apelidado de “Moleque Travesso” por conta de uma vitória surpreendente em cima do Corinthians em pleno Parque São Jorge por 2x1, quando o jornalista Tomas Mazzoni batizou o feito do novato time da Mooca como uma travessura de um moleque que ousou vencer um gigante em seus próprios domínios e desde então, o time também é chamado assim.

O clube tem como principais títulos a Taça de Prata de 1983 (equivalente a  Serie B) e a Copa Paulista de 2007. Seu maior rival é a Associação Portuguesa de Desportos, com quem protagoniza o “Clássico dos Imigrantes”, porque o Juventus representa a colônia italiana, assim como todo o bairro da Mooca e a Portuguesa é um clube que foi fundado por imigrantes portugueses. O primeiro jogo entre as duas equipes aconteceu em 18 de maio de 1930 e teve a vitória dos lusitanos por 2 a 1. Outro fator que deixa a rivalidade intrigante é o fato dos dois serem clubes teoricamente coadjuvantes dentro da cidade de São Paulo. E no histórico do confronto, o time do Canindé acaba tendo uma vantagem, com 69 vitórias contra 31 do juve e ainda tem 33 empates.                                  


Outro clássico que o juventino nutre é o “Juvenal Paulista”, o embate é contra o Nacional da Barra Funda, clube da zona norte da capital. E nos confrontos, o Juventus leva vantagem com 37 vitórias contra 20 do Nacional e ainda contando com 18 empates, o Juventus não tem tanta rixa com os grandes da capital.


O queridinho do bairro


Ao andar pela Mooca, é comum você se deparar com pessoas com o manto grená do Juventus, mesmo não sendo dia de jogo, ou ver diversas pinturas e grafites fazendo referências ao clube, deixando bem claro a influência do “Moleque Travesso” no bairro.

“Uma das características da Mooca é a paixão que o mooquense nutre pelo Bairro, sentimento esse que você encontra em poucos bairros. E essa paixão é normalmente transferida para o Juventus, pois não se consegue separar Mooca e Juventus, o clube passa a ser mais conhecido por estar na Mooca e o contrário também é verdadeiro. Por isso é conhecido como o Juventus da Mooca” diz Ângelo Eduardo Agarelli, de 73 anos morador do bairro desde que nasceu e membro do conselho deliberativo do clube.

Ir a um jogo do time no Estádio Rodolfo Crespi, é um costume para os moradores, acompanhados de um cannoli (uma sobremesa proveniente da Sicília, que consiste em uma massa doce frita, em formato de tubo, recheada com um creme de ricota) vendido por Seu Ântonio.

“Os pais tem prazer e alegria em levar não só os filhos, mas também a esposa e outros membros da família nos jogos do Juventus. Tenho notado com frequência que se a criança ou o jovem vai uma vez na Javari nunca mais deixa de frequentá-la” afirma Agarelli.                        

Ele disse também que essa paixão tem um impacto na economia mooquense:” existem duas lojas com produtos licenciados, mas como o Juventus não mantém controle adequado sobre sua marca, várias outras lojas vendem produtos com a marca juventina, além de utilizarem em suas nomenclaturas (Esfiha Juventus, Pizzaria Nova Juventus, etc.) sem qualquer remuneração para o Clube, porém não existe Mooca sem Juventus e não existe Juventus sem Mooca.

Os jogadores também curtem a torcida e o bairro


Caminhando pelo bairro, é possível ver jogadores e dirigentes do clube circulando na região, frequentando os estabelecimentos e conversando com os moradores, onde eles não veem pressão, igual acontece em outros clubes grandes de São Paulo ou com mais mídias, então se sentindo mais confortáveis para interagir com os torcedores e isso claramente aumenta o vínculo de ambos, e acabam se sentindo acolhidos pelo bairro.

 Alex Alves, atual treinador do clube e que também já jogou no moleque travesso, elogia a torcida: “Minha relação com a torcida do Juventus foi muito boa, um dos clubes que me deu a oportunidade quando eu era jovem, uma torcida que apesar de apaixonada sempre está te cobrando. Todos os dias que tinham jogos na Javari eram muito especiais, principalmente no domingo quando estava lotada, pessoas de diferentes idades estavam para apoiar o moleque travesso. Eles ficavam bem de perto, então sempre dava pra escutar os elogios e também as cornetas. Foi um clube que me identifiquei muito e tive uma relação muito boa com a torcida”.

Existe torcedor fora da Mooca




Victor Nun, de 19 anos e morador de Ermelino Matarazzo, também nutre um amor pelo Moleque Travesso e conta como começou essa paixão:

“Nasci aqui na Zona Leste, e desde criança tive aquela influência de Corinthians, São Paulo, Palmeiras... só que nunca consegui adotar esses times, mesmo minha mãe sendo são-paulina, tinha primos corintianos e palmeirenses. Passei a morar um tempo em Minas Gerais e lá adotei o Atlético Mineiro como time e quando eu voltei pra São Paulo, sentia falta do futebol, então em meados de 2015 quis conhecer o Juventus da Mooca, onde me apaixonei e desde esse dia comecei a frequentar mais os jogos, de ir quase todo fim de semana dentro e fora de casa, já fui de torcida, já fiz parte do clube e até hoje não sei descrever a paixão que eu sinto”.

“Não sei explicar direito o porquê fui me apaixonar, porque não é um time que não me oferece muitos títulos mas acho que foi pela simpatia do clube, pela sua história e também por ser um time da zona leste que representa uma classe operária, um povo menos abastardo, que não tem um estádio elitizado com um preço mais acessível e por isso acabou ganhando meu coração. Hoje sou juventino fanático” finaliza Victor.



Quem não torce, mas simpatiza


É o caso de Guilherme Luiz Pereira, de 18 anos e palmeirense, mas adquiriu uma grande simpatia pelo Moleque Travesso: “Conheci o Juventus através de um desejo da minha mãe, ela que cresceu ouvindo muitas pessoas falando sobre o clube. Então por curiosidade dela e depois minha principalmente por apreciar o futebol, tive a ideia de ir à Rua Javari com ela em um jogo”

“Depois frequentei mais vezes por conta própria porque acabei admirado pela torcida estilo barra brava (se referindo a torcida Setor 2) e tinha uma pegada diferente das demais torcidas brasileiras, que tem um modelo mais parecido com escolas de samba”

E mesmo não sendo morador da Mooca, salienta a importância que o clube como um todo é um centro cultural pro bairro e pra zona leste.  

“Representa muito pro bairro em si, não só o clube de futebol, mas sim como um clube recreativo que tem outros esportes, como por exemplo; vôlei, judô, dança, patinação, basquete, natação, e essa atenção para os outros esportes contribui para que me simpatize mais”.

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